A Recid-PI é um coletivo
de organizações sociais populares que tem como principal missão a mobilização e
formação de grupos. Ela atua prioritariamente em quatro grandes regiões do
estado cujo público principal são os empobrecidos do campo e da cidade.
Enquanto ator social
comprometido com a construção de um novo homem e de uma nova mulher bem como de
um novo mundo, a Recid-PI vem consolidando duas grandes linhas de atuação no
nosso estado: a formação continuada das pessoas e grupos acompanhados, e, o
trabalho de mobilização da rede de movimentos sociais parceiros. As duas linhas
são frutos de um trabalho de construção coletiva onde equipe de educadores e
voluntários define em conjunto temas, processos, grupos prioritários,
metodologias, avaliação etc.
O público principal de
nosso trabalho de formação tem sido as juventudes e grupos comunitários
(associações e coletivos comunitários). A metodologia de trabalho é norteada
pela concepção da educação popular: parte da compreensão e escuta acerca da
realidade dos grupos, mobiliza a discussão e reflexão, desafia os grupos a
enfrentarem as questões propostas, e, à medida que se desenvolvem as ações
reflete sobre esse processo de luta e os caminhos trilhados.
Nosso
trabalho educativo dialoga com um contexto social, político e econômico bem particular
neste ano de 2012. O modelo desenvolvimentista defendido pelos últimos governos
estaduais tem se intensificado – os grandes projetos (Terra Cal, por exemplo,
na área de produção agrícola – cana-de-açúcar, cacau, tomate – no sul do
estado). O governo atual tem reforçado a política desenvolvimentista dos
últimos anos de apoiar os grandes projetos que, por sua vez, desprotege ainda
mais a agricultura familiar: esta é deixada à margem e com reduzidos recursos.
As juventudes e famílias são expulsas de suas terras: a gestão desigual dos
recursos hídricos e de terra desprotege a produção agrícola familiar. No mesmo
sentido, a falsa promessa de desenvolvimento e os empregos temporários
favorecem a desagregação das unidades produtoras familiares.
O processo
político-eleitoral deste ano mais uma vez demonstrou-se conservador e
clientelista. Ao mesmo tempo, o acirramento da seca e de suas consequências
cruéis (fome, sede, êxodo rural etc.) fortaleceu um quadro difícil para os
pobres e marginalizados piauienses.
Neste contexto,
ressalta-se também a mobilização das famílias e comunidades na luta por acessar
as políticas compensatórias para lidar com a seca (a maior nos últimos
cinquenta anos).
Noutra direção, o Fórum
Piauiense de Convivência com o Semi-Árido vem se contrapondo a esse modelo
opressor: gritos, marchas, passeatas, audiências públicas etc. vêm se
constituindo em mecanismos de denúncias e lutas pela transformação dessa dura
realidade.
Diante dessa
conjuntura, uma das principais orientações que tem primado nosso trabalho é o
exercício de planejar coletivamente.
Ao mesmo tempo, este planejamento é monitorado e avaliado também por nosso
coletivo.
Nossas ações estão
organizadas com o intuito de formação de
nossas bases. No aditivo de 2012, foram 73 oficinas que discutiram,
principalmente, sobre “voto consciente”, “políticas públicas”, “combate à
pobreza e à miséria”, “economia solidária”, “organização comunitária”. Também
neste ano realizamos o segundo curso de educadores jovens rurais, iniciamos o
curso sobre realidade brasileira além de quatro encontros intermunicipais.
Nestes últimos foram destaques os temas “enfrentamento da pobreza e miséria”,
“Estado democrático” e “metodologia de educação popular”.
Sobre os grupos
acompanhados, destacamos os de jovens,
mulheres e agricultore(a)s. A maioria do público jovem acompanhada pelas ações
formativas da rede é beneficiada dos programas de distribuição de renda do
governo federal o que vem demonstrar a estreita relação entre nossa proposta
formativa e o atendimento dos oprimidos brasileiros. Também tem-se observada
uma forte participação do público juvenil feminino,
além de ser, na sua grande maioria, composto por estudantes. A identidade dos
jovens passa também por sua vinculação familiar o que tem facilitado nosso
processo de compreensão da realidade das comunidades e de comunicação com seus
atores.
As mulheres e
agricultore(a)s são, no seu grande número, compostos por analfabetos
funcionais. Nesta mesma direção, as mulheres acumulam uma dupla jornada de
trabalho (ao tempo que são oprimidas pelo machismo vêm lutando por relações de
igualdade entre os gêneros) e, em geral, são as maiores animadoras das
comunidades. Elas também são as grandes protagonistas da economia solidária.
Quanto aos
agricultores, o foco tem sido a agricultura familiar, linhas de crédito,
políticas de convivência com o semi-árido. Muitos são de assentamentos (crédito
fundiário e Incra) e integrados aos STTRs. A Recid tem investido na formação
política desse(a)s trabalhadore(a)s rurais. A migração sazonal tem sido uma
característica do grupo de agricultores: deslocam-se para os grandes centros,
trabalham e retornam quando adquirem o direito ao seguro-desemprego. E, quando
retornam, perdem o reconhecimento como trabalhador rural para a previdência
social.
O esforço da construção
coletiva tem sido uma constante em nossa caminhada. Por meio da gestão compartilhada e planejamento conjunto tem sido possível
encampar a “luta pelo voto consciente”, “campanha em defesa das terras, das
águas e dos povos do Piauí”, “a semana da pátria” e os debates sobre o estado
democrático, os espaços de formação continuada que acabam levando a uma
participação das juventudes.
A gestão compartilhada
e o planejamento coletivo têm levado também à formação de um coletivo organizado
e com forte participação dos educadores voluntários, com reuniões periódicas e
participação consistente da entidade âncora estadual. Importante destacar que
essa forma de gestão compartilhada favoreceu a realização do I Encontro da Juventude do Piauí e do Informativo da Recid-PI. Estes fatos
vêm destacar a atuação dos grupos de trabalho da Recid (gestão, pedagógico,
juventude, comunicação). O blog tem evidenciado as várias iniciativas de gestão
compartilhada de nosso coletivo.
Os processos de formação continuada vêm se consolidando pela
realização do curso de educadores jovens rurais e o curso sobre realidade
brasileira. Os encontros microrregionais são outros espaços de debate e
formação além da troca de experiências e saberes. Além disso, apresentam-se
como espaço de divulgação e atração de novos atores sociais para o trabalho em
rede.
As oficinas com
temáticas específicas, voltadas para os interesses pontuais dos grupos, também
são momentos de formação e motivação para a atuação política dos participantes.
Já tem havido um entendimento e uma prática do coletivo em torno da
continuidade do processo formativo. As oficinas têm mobilizado coletivos para a
caminhada da educação popular.
Ao
relatar estes avanços, faz-se importante também refletir sobre os limites e
dificuldades de nossa caminhada:
·
A dinâmica financeira e outras questões
burocráticas do convênio vêm se mostrando como dificuldades que nos desafiam
cotidianamente;
·
O caráter contraditório do “pé dentro” e do “pé
fora” da RECID;
·
Realização de parcerias com divisão de
responsabilidades, sobretudo com o poder público;
·
Migração forçada principalmente pela juventude
rural;
·
A
comunicação ainda precária em algumas regiões (muitos educadores e educadoras
ainda sem acesso a uma comunicação mais eficaz);
·
Construção de uma agenda comum de educadores e educadoras, de modo
particular quando se exige a participação das pessoas voluntárias;
·
A
continuidade de animação e mobilização dos coletivos acompanhados com os
intervalos entre um convênio e outro;
·
Espaços
mais permanentes de estudo, reflexão e formação para os educadores e
educadoras, sobretudo voluntário(a)s.
Quanto aos próximos desafios, queremos ressaltar a
importância de aprimorar a atuação dos
grupos de trabalho para dar conta de uma atuação coletiva e com resultados
maiores.
Outro desafio diz respeito à consolidação de nosso coletivo que ainda carece de uma maior
representatividade diante do trabalho diversificado realizado nas
microrregiões. Para realizar as oficinas consegue-se mobilizar um conjunto de
parceiros pontuais, mas, de fato, ainda é forte a ausência dos parceiros no
processo de gestão, planejamento e avaliação da rede.
Devemos também estar atentos à necessidade de sistematização de saberes e experiências.
O ativismo tem sufocado as possibilidades de um registro mais sistemático de
nossas caminhadas.
Outro
aspecto que desejamos ressaltar diz respeito às perspectivas. Primeiro, a formação continuada. Com o próximo
convênio, previsto para dois anos contínuos, sinaliza-se positivamente para a
construção de um processo de formação continuada mais consistente.
Temos
em vista também a constituição de grupos
de educadores consolidados nas microrregiões o que fortalecerá o coletivo
estadual. No mesmo sentido, os grupos de trabalho, principalmente, o da
juventude, possuem fortes perspectivas de desenvolvimento de sua atuação nos
próximos dois anos.
A equipe de educadores já conhece o
processo de educação popular no Piauí. A perspectiva de permanência de uma
mesma equipe pode ser algo positivo para a trajetória. No mesmo sentido, a
continuidade da entidade âncora pode significar uma caminhada mais segura e
estável.
Educadores
e educadoras do Piauí, esta carta descreve elementos importantes que observamos
na nossa caminhada durante o ano de 2012. Esperamos que suas análises e
provocações contribuam com a ampliação de nosso trabalho reflexivo e também com
nossas lutas. A caminhada é longa, pesada e desafiadora. Assim, devemos estar
conscientes de nossas ações, firmes nos nossos propósitos e críticos sobre
nossas estratégias.
(Coletivo Estadual da RECID PIAUI)
(Coletivo Estadual da RECID PIAUI)
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